quarta-feira, 14 de outubro de 2015

MIELE E A ARTE NO FUTEBOL




A quarta-feira de futebol começa com a triste notícia da morte de LUÍS CARLOS MIELE, aos 77 anos, depois de sentir uma mal súbito em sua casa na zona sul do Rio de Janeiro.

O paulistano que virou  carioca foi um dos artistas mais completos de todos os tempos no país, aquilo que se chamava de "showman", o verdadeiro.

Produziu, dirigiu, atuou, narrou, apresentou e presenciou vários dos momentos mais importantes da arte musical e teatral brasileira nas últimas seis décadas.

Era um coringa, um polivalente, como se diz no vocabulário da bola.

E MIELE tinha no futebol uma de suas grandes paixões.

Nascido em São Paulo, chegou a jogar no juvenil do Palmeiras, mas na época já começava a trabalhar na noite e acabou sendo aconselhado por um técnico argentino a investir no show-business.

O cenário futebolístico perdeu mais um Luiz Carlos, mas o  Brasil acabava de ganhar MIELE, que se tornaria uma grife do entretenimento nacional e um peladeiro nas horas vagas, requisitadíssimo para jogos entre artistas.


Nessa foto, tirada em 1975, aparece como o último em pé, em um time de artistas da música fardados com a camisa do  Fluminense, time do coração de CHICO BUARQUE, o organizador do jogo, que serviu de preliminar da decisão da Taça Guanabara, entre o tricolor carioca e o América.

MIELE também se inspirou no futebol para produzir um dos espetáculos mais vistos no circuito  Rio-São Paulo na década de 60: o aplaudidíssimo "PRIMEIRO TEMPO: 5 X 0".

Em 1966, ao lado de RONALDO BÔSCOLI, reuniu no palco a consagrada CLAUDETTE SOARES e o desconhecido TAIGUARA, acompanhados pelo fenomenal JONGO TRIO.



O musical recebeu este título para aproveitar a enorme euforia que tomava conta do país com o futebol e a expectativa de ver a  seleção brasileira conquistar o tricampeonato na Copa do Mundo da Inglaterra, disputada naquele ano. Afinal, tínhamos PELÉ e GARRINCHA,

O título não veio, a seleção fez um papelão na terra dos BEATLES,  mas "PRIMEIRO TEMPO: 5 X 0" permaneceu em cartaz por mais 3 anos, com algumas adaptações no repertório, que originalmente é impecável.

01 – Abertura – Samba tempo ( Marcos Vasconcellos – Pingarrilho)
02 – Canto de Ossanha (Baden Powell – Vinicius de Moraes)
03 – Tempo (Mieli – Ronaldo Bôscoli) – A banca do destino (Billy Blanco)
04 – Tempo de humor (talk) – Civilização (Pingarrilho – Marcos Vasconcellos)
05 – Pra você (Silvio César) – Preciso aprender a ser só (Marcos Valle – Paulo Sergio Valle) – Estrada do sol (Tom Jobim – Dolores Duran)
06 – Mila (Roberto Menescal – Ronaldo Bôscoli)
07 – Tristeza (Haroldo Lobo – Niltinho)
08 – Soneto da separação (Vinicius de Moraes) – Apêlo (Baden Powell – Vinicius de Moraes)
09 – Tempo de humor (talk)
10 – Por um amor maior (Ruy Guerra – Francis Hime)
11 – Tempo de 5 X 0 (talk) – Samba do carioca (Carlos Lyra – Vinicius de Moraes)


O LP com o show da primeira temporada foi gravado e lançado ainda em 1966.  É uma das grandes raridades da minha coleção de discos e assim que soube da morte de MIELE, me lembrei imediatamente desta preciosidade.

No mês de nascimento de grandes craques como PELÉ, MARADONA e GARRINCHA, o Brasil dá adeus um craque da música, do riso e da interpretação.



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